Livre
Inês Pires, 28 anos. Nasceu e reside atualmente nas Caldas da Rainha. Formou-se em Bioquímica e Biologia Celular e Molecular pela Universidade do Porto e está atualmente a estudar Ciências Farmacêuticas na Universidade de Lisboa. A nível profissional, trabalha em Contabilidade. É membro do LIVRE desde 2019, integra a direção distrital em Leiria desde 2021 e faz parte da coordenação do Círculo Temático Ecologia e Desenvolvimento Sustentável. Tem-se dedicado às causas da crise ecológica e também dos direitos das mulheres.
O distrito de Leiria tem muito potencial de desenvolvimento, devido a um ensino superior de qualidade e referência, como é o Instituto Politécnico de Leiria, a um setor empresarial dinâmico e também aos bens naturais que possui. Contudo, existem alguns obstáculos a esse desenvolvimento que devem ser ultrapassados. Uma das prioridades do LIVRE para Leiria é a gestão florestal, devido ao papel que as florestas representam para o território e para o combate às alterações climáticas. Queremos florestas mais diversas e resilientes, com espécies autóctones e nativas, e bem geridas a nível local, criando valor acrescentado para a região. Outra prioridade é a coesão do território, de forma a reverter o despovoamento e isolamento das populações. A mobilidade assume um papel preponderante nessa estratégia. É essencial acelerar as obras de modernização e eletrificação da Linha do Oeste, garantir que sirva as pessoas e seja uma mais valia para o desenvolvimento económico da região. Também é fundamental concretizar a Linha de Alta Velocidade que liga Leiria a Lisboa e ao Porto. Ao mesmo tempo, deve haver um investimento para criar uma rede de transportes públicos que ligue os vários concelhos e populações de forma integrada e acessível e com oferta diversificada.
A crise da habitação é bastante sentida no distrito de Leiria e nos últimos anos tem se agravado. A falta de habitação pública acessível é um dos fatores que contribui para essa crise e por isso o LIVRE defende que deve ser feito o investimento necessário para atingir a meta de 10% de habitação pública, seja através da construção de novas casas seja através da reabilitação e conservação do edificado público. O LIVRE também propõe assegurar a ajuda da compra da primeira casa, através do Programa Ajuda de Casa, que consiste no financiamento de até 30% do valor de mercado do imóvel. Outra solução passará pelo apoio às cooperativas habitacionais, com o objetivo de desenvolver um parque habitacional cooperativo com custos de construção controlados para habitação própria e permanente. Relativamente às áreas urbanas degradadas, é fundamental promover a reutilização e reconversão de imóveis públicos subutilizados ou obsoletos não só para habitação pública, mas também para projetos de interesse público, como espaços de teletrabalho, creches, centros cívicos ou outros espaços de encontro da comunidade. Além disso, deve ser promovida a criação de mais espaços verdes, que ajudem na adaptação aos efeitos da emergência climática e que promovam o convívio e bem estar da comunidade.
É necessário apostar num novo modelo de desenvolvimento para o distrito e também para o país. Um modelo que seja mais sustentável do ponto de vista ecológico, que valorize o conhecimento e também que seja socialmente justo, menos dependente de uma economia de baixos salários. Assim, a ligação do Instituto Politécnico de Leiria à sociedade civil e ao tecido empresarial local deve ser reforçada, permitindo a criação de sinergias para o desenvolvimento de novas tecnologias ou criação de novos produtos. O microempreendedorismo deve ser também promovido, através da criação de hubs criativos que possam dotar as pessoas de espaços de trabalho de baixo custo, com partilha de recursos como a eletricidade e partilha de serviços essenciais ao desenvolvimento da atividade.
Os efeitos das alterações climáticas são cada vez mais visíveis, desde várias ondas de calor por ano, até inundações e incêndios devastadores. É urgente reduzir o consumo de energia, através de medidas de eficiência energética, acelerar a descarbonização e abandonar os combustíveis fósseis e para isso será necessário apostar num mix de energias renováveis para assegurar as necessidades energéticas do país. Uma das medidas que marcou a atividade do LIVRE no último mandato na Assembleia da República é o programa 3C - Casa, Conforto e Clima, com o objetivo de garantir edifícios e equipamentos mais eficientes, e que deve continuar a ser reforçado, para chegar a mais pessoas. Para o LIVRE é essencial cumprir a Lei de Bases do Clima, aprovada em 2021, cuja aplicação está atrasada, e que inclui, entre outras medidas, a criação de orçamentos de carbono e a elaboração de um relatório sobre o impacto climático da legislação vigente. As Comunidades de Energia Renovável devem ser promovidas assim como a democratização do acesso à produção e distribuição de energia elétrica a partir de fontes renováveis. Também a mobilidade deve ser repensada, de forma a assegurar a redução da utilização do carro privado, privilegiando os transportes coletivos e a mobilidade suave e ativa, como a bicicleta. Relativamente à proteção dos recursos naturais, é urgente a revogação do Simplex Ambiental, aprovado em março de 2023 e que tem como objetivo a simplificação da burocracia para obtenção de autorizações e licenças ambientais e que o faz através do desrespeito das legislações nacional e europeia de proteção ambiental. Um dos pontos mais graves é o deferimento tácito, que pode levar à viabilização de projetos que não cumprem as exigências ambientais mínimas, caso não haja resposta dentro de um prazo encurtado para 10 dias. Para o distrito de Leiria, este decreto-lei representa um retrocesso na medida em que permite a redução do controlo de efluentes, com emissão de licenças para pecuária intensiva sem apresentação de plano de gestão de efluentes.
Os meios de transportes são essenciais para garantir a liberdade e autonomia das pessoas, para que consigam chegar ao local de trabalho, aos serviços públicos e a espaços de lazer e convívio, mas por outro lado são também um dos setores que mais contribui para a emissão de gases com efeito de estufa. Assim, as políticas de mobilidade devem ser centradas nas necessidades das pessoas e também no respeito pelo planeta. O uso da viatura privada deve ser desincentivado através da promoção de alternativas mais sustentáveis, funcionais e diversas. A ferrovia deve assumir um papel central na deslocação pelo distrito, através da Linha do Oeste e da Linha de Alta Velocidade, complementada pela criação de uma rede de transportes públicos acessível que ligue todos os concelhos e freguesias, assegurando a intermodalidade, a integração horária e tarifária. A mobilidade pedonal, em bicicleta ou outros modos ativos, deve ser promovida concretizando a rede ciclável nacional, regional ou intermunicipal. É fundamental dar prioridade à segurança rodoviária, através da redução da velocidade máxima em zonas urbanas para 30 km/h e redesenhando o espaço público, para que priorize os peões, bicicletas e transportes públicos como meio de transporte em meio urbano, e dessa forma reduzir os acidentes e perda de vidas nas estradas.
Um dos políticos que mais me impressionou e mais me inspira atualmente é Jorge Sampaio, um político que sempre se debateu pela democracia e pelos Direitos Humanos. Sempre teve como principal foco os mais frágeis da nossa sociedade, e foi capaz de dialogar com vários setores sociais para transformar a sua própria cidade e mais tarde todo o país. O seu humanismo, cooperação e entrega são grandes exemplos de como estar na política. Uma das grandes figuras políticas que mais me impressionou, e ainda hoje me inspira, é a Maria de Lurdes Pintasilgo. Integrou vários governos depois do 25 de abril e foi mesmo a única mulher primeira-ministra em Portugal, e ainda candidata presidencial. Ainda antes do 25 de abril já trabalhava pela emancipação feminina, e sempre trabalhou em prol dos direitos das mulheres e da sua afirmação social. Foi uma figura pioneira e combativa, que abriu caminho para muitas mulheres nas áreas das engenharias e mesmo na política, e que me inspira.
O livro que recomendaria ao próximo primeiro-ministro é “Tempo” de Jorge Pinto. É um livro que se debruça sobre o imparável avanço dos ponteiros do relógio, e sobre a importância do que é ter tempo. Nos dias que correm, quando temos cada vez menos tempo para viver e estarmos com as pessoas de quem gostamos, o tempo é dos maiores bens que podemos ter. É importante que o próximo governo valorize o tempo de todas as pessoas.