BE
Tenho 33 anos, sou natural da Lousã, no distrito de Coimbra, onde cresci e vivi até terminar os estudos e a formação pós-graduada. Desde 2020, sou médico especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF), médico de família, tendo trabalhado em várias unidades com formas de funcionamento diferentes, tanto em meio urbano, como semi-urbano e rural, em Coimbra, Souselas (Eiras), Parceiros e, atualmente, nos Marrazes, em Leiria, na USF (Unidade de Saúde Familiar) Martingil desde Maio de 2022. Trabalho também na Consulta de Atendimento Complementar (CAC) de Castanheira de Pera, dando apoio a uma população atualmente sem médico de família e com poucos recursos de transporte, e que distam mais de uma hora do hospital mais próximo. Sou delegado e dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Centro (SMZC) desde 2022, estrutura que integra a Federação Nacional dos Médicos (FNAM). Em termos associativos, sou sócio da Associação Nacional de USF (USF-AN) e membro da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF). Tenho participado em vários movimentos em defesa dos direitos dos utentes e do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente o movimento “+ SNS” e a Comissão de Profissionais de Cuidados Saúde Primários do ACeS Pinhal Litoral contra a Unidade Local de Saúde da Região de Leiria, e colaborado também com associações e movimentos de utentes da região (UR’GENTE, em Porto de Mós; Comissão de Utentes em Defesa do SAP 24 Horas da Marinha Grande; Movimento de utente “Por Médicos de Família no Centro de Saúde de Ourém e nos seus Polos”, de Ourém). Sou membro do Bloco de Esquerda (BE) desde junho de 2021, altura em que percebi que seria necessário revitalizar e investir no SNS e que as políticas defendidas pelo Partido Socialista (OS) eram claramente insuficientes, tendo-me desvinculado, por esse motivo, do OS. Integrei as listas de candidatos do BE à União de Freguesias de Parceiros e Azoia, nas últimas eleições autárquicas, e fui mandatário político do Bloco de Esquerda às eleições legislativas de 2022 pelo círculo eleitoral de Leiria.
O distrito de Leiria vive muitas das dificuldades sentidas pelo país. Refiro-me à crise na Habitação, com preços impossíveis para a maioria da população; à falta de investimento no Serviço Nacional de Saúde (SNS), incapaz de atrair e fixar profissionais de saúde e de dar uma resposta efectiva às necessidades em Saúde da população; à crise na Educação em que os professores e profissionais não docentes se deparam com uma falta de valorização do seu papel edificante na sociedade e à crise dos salários devido a uma aposta numa Economia de baixos salários assente no turismo e no imobiliário. Mais concretamente no distrito de Leiria, é urgente a requalificação e electrificação da Linha do Oeste e, a partir desta, constituir uma rede pública de transportes supramunicipal, intermodal, ecológica e efectiva em termos de horários, frequência e cobertura territorial que aproxime os 16 concelhos do distrito e que torne Leiria um ponto de comunicação entre o norte e o sul do país. Além disso, é preciso uma visão estratégica para o distrito que, aproveitando a estrutura industrial e com apoios dirigidos, promova uma reconversão num contexto de reindustrialização assente na transição climática. Estas duas propostas promoverão uma maior proximidade territorial, aumentando a coesão do território, ao mesmo tempo que aumentam a competitividade do distrito. Esta estratégia, em complementaridade com o reforço de serviços públicos nos concelhos mais despovoados e envelhecidos, levará a uma diminuição das assimetrias e desigualdades, ao mesmo tempo que diminuirá a pressão sobre os maiores centros urbanos do distrito.
A Habitação, atualmente, é das mais graves crises que a maioria dos portugueses e leirienses sente devido aos preços crescentes no valor dos empréstimos e das rendas, consumindo uma fatia cada vez maior dos orçamentos familiares, cujos salários não têm acompanhado, em termos reais, os custos de vida crescentes. A solução para este problema passa necessariamente pela reabilitação de casas para habitação permanente ou arrendamento por tempo indeterminado, colocando no mercado casas a preços acessíveis ao rendimento médio e baixo dos leirienses, devendo ser complementado com uma política de estímulos à colocação de alojamento no mercado de arrendamento a preços acessíveis e limitação do alojamento local, de forma a refrear preços especulativos. Adicionalmente, há que garantir que existam em todos os concelhos com instituições de ensino superior público residências universitárias de dimensão adequada às necessidades, de forma a que os custos com a habitação não constituam um obstáculo no acesso ao direito à educação superior. Considerando a situação económico-social complexa e de fragilidade do distrito, é importante estender e reforçar o Programa de Habitação Social em todo o distrito num espírito de integração da mesma na malha urbana do respectivo concelho.
O eixo central deve passar pela reindustrialização do país assente na transição climática. As consequências das alterações climáticas são uma realidade indelével, exigindo dos decisores a ousadia e o pragmatismo de uma aposta clara em políticas assentes nas energias renováveis e formas de mobilidade ecologicamente responsáveis. A articulação entre as instituições do ensino superior público, como o Instituto Politécnico de Leiria (IPL) e outras instituições com produção e conhecimento científico, com as empresas, é um ponto-chave para criar pólos de inovação nesta área, ao mesmo tempo que permitem a criação de empresas e trabalhos altamente qualificados e bem remunerados, mudando-se o paradigma de uma economia de baixos salários. Há que aproveitar os jovens altamente diferenciados e qualificados que saem todos os anos do ensino superior. Estas sinergias podem constituir-se também como um agente catalisador e de atracção para a fixação de pessoas no distrito, especialmente no interior, promovendo o desenvolvimento, a coesão e a competitividade, sem esquecer outras valências como as relacionadas com a Cultura que são indissociáveis de um desenvolvimento harmonioso onde a Escola Superior de Arte e Design é exemplar, sendo necessário reforçar o fraco investimento na Cultura e combater a precariedade vivida no sector.
5. Portugal e em particular o distrito de Leiria são um ‘ponto crítico’ para as consequências das alterações climáticas, ou seja, é um distrito onde sentiremos estas consequências de forma mais marcada. São exemplo disso mesmo os inesquecíveis incêndios de 2017, e o que ficou e ainda está por fazer, por exemplo, nas Matas Nacionais de Leiria, do Pedrógão e do Urso, sendo necessário investir na reconstrução das mesmas, de forma a preservar a sua biodiversidade e proteger a orla costeira dos efeitos da erosão. Para isso é preciso a recuperação do Corpo de Guardas Florestais e Vigilantes da Natureza, apoiar a concretização de Áreas Integradas de Gestão da Paisagem (AIGP) nas áreas de maior risco de incêndio, programas de diversificação de culturas, apostando em espécies autóctones e programas de erradicação de espécies invasoras. De forma a proteger o nosso maior recurso natural, a água, outras medidas relevantes que destacamos são a reabilitação dos sistemas de abastecimento de água potável, a reutilização de águas residuais em usos urbanos e o reforço da fiscalização de todas as atividades poluentes das linhas de água e bacias hidrográficas, vítimas de vários agentes poluentes (efluentes suinícolas, asfalto e resíduos industriais). É urgente a construção de uma Estação de Tratamento de Efluentes Suinícolas (ETES). Todas estas medidas devem assentar numa economia baseada na transição climática e num sistema de transportes públicos robusto.
A poluição gerada pelos transportes é dos factores mais preponderantes na emissão de gases com efeito de estufa (GEE), devendo, por isso, ter uma resposta dirigida e articulada, através de uma política de transportes de âmbito nacional com particular enfoque regional. Assim, deve-se capacitar o distrito de uma maior e mais ampla oferta de transportes públicos, ao mesmo tempo que se criam incentivos à sua utilização. Para isso, propomos a requalificação e electrificação completa da Linha do Oeste, a criação de um sistema de transportes colectivos de dimensão sub-regional e de serviços regionais ferroviários de proximidade territorial com frequência e horários que sirvam as necessidades de deslocação das populações, a criação de passes mensais intermodais de abrangência sub-regional a custos acessíveis, transportes públicos gratuitos para todos os estudantes, a promoção do uso partilhado de modos suaves de deslocação e intensificação do processo de substituição da frota automóvel pertencente a entidades públicas locais ou da administração autárquicas por alternativas menos poluentes ou de emissões zero.
O político que mais me impressionou e ainda me inspira atualmente é o Fernando Rosas, um acérrimo defensor da liberdade, um lutador antifascista e com ligações, por motivos históricos, ao nosso distrito. É um político de uma cultura e conhecimento extraordinários, de grande generosidade intelectual e com uma participação cívica como muito poucos.
O livro que recomendaria ao próximo primeiro-ministro é o programa político do Bloco de Esquerda, não só pela clareza e solidez das propostas e a visão de compromisso. Como um bónus, também recomendaria o nosso Manifesto Distrital para que as preocupações do distrito não fiquem esquecidas.